Obesidade e câncer: entenda por que o excesso de peso é fator de risco para alguns tipos de tumores
A relação entre obesidade e câncer está ficando cada vez mais evidente para os especialistas em saúde. No Brasil, são mais de 400 mil casos de câncer diagnosticados a cada ano. Entre eles, cerca de 15 mil podem ser atribuídos à complicações decorrentes do excesso de peso.
É o que indica um recente estudo promovido pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP em parceria com a Universidade de Harvard e a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer.
O artigo analisa dados da população brasileira para demonstrar como o excesso de peso e a obesidade podem aumentar os riscos de desenvolver 13 tipos de câncer.
Tipos de câncer causados pela obesidade:
- Câncer de mama (pós-menopausa);
- Câncer de cólon e reto;
- Câncer do corpo do útero;
- Câncer da vesícula biliar;
- Câncer de rim;
- Câncer de fígado;
- Mieloma múltiplo;
- Câncer de esôfago;
- Câncer de ovário;
- Câncer de pâncreas;
- Câncer de próstata;
- Câncer de estômago;
- Câncer de tireoide.
A ligação entre o câncer e o excesso de peso:
A incidência dos tipos de câncer listados acima corresponde à metade do total de casos de câncer diagnosticados anualmente no país.
O que os pesquisadores fizeram foi estimar, entre todos os casos registrados desses 14 tipos de câncer, qual a proporção era atribuível ao excesso de peso.
Utilizando dados do IBGE, eles calcularam a distribuição do índice de massa corporal (IMC) no Brasil nos anos de 2002 e 2013. Verificaram que em 2002, 40% da população apresentava excesso de peso e obesidade. Enquanto em 2013 esse índice se já aproximava dos 60%.
Assumindo uma média de dez anos para o desenvolvimento de um câncer, os autores do estudo estimam que algo em torno de 10 mil casos de câncer em mulheres e 5 mil em homens diagnosticados em 2012 são atribuíveis ao excesso de peso e obesidade registrados 2002.
De acordo com o estudo, a maioria dos casos de câncer em mulheres foram de mama (5 mil), corpo do útero (2 mil) e cólon (700). Nos homens, os mais frequentes foram os cânceres de cólon (1 mil), de próstata (900) e de fígado (650).
Para 2025, a previsão é que cerca de 19 mil casos de câncer em mulheres e 15 mil casos em homens serão causados por excesso de peso e obesidade.
Segundo os pesquisadores, isso vai ocorrer não apenas devido ao aumento no excesso de peso e na obesidade observado entre 2002 e 2013, mas também ao crescimento e envelhecimento populacional.
Por que a obesidade pode causar câncer?
Obesidade e câncer estão definitivamente conectados. Mas o mecanismo biológico que explica como o excesso de peso aumenta o risco de desenvolver um tumor pode variar de acordo com os diversos tipos da doença.
Segundo os pesquisadores, a obesidade é um fator de risco para o câncer por que provoca um estado de inflamação crônica e altera o metabolismo de determinados hormônios. Isso pode causar danos às células, promovendo ou acelerando o surgimento de tumores.
O desenvolvimento de tumores como de mama, de endométrio e do intestino grosso, por exemplo, envolve alterações nos hormônios sexuais (estrógeno, progesterona e androgênios) além de alterações nos níveis de insulina e em fatores de crescimento ligados à insulina.
Prevenção do câncer e combate à obesidade.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência de excesso de peso corporal na população adulta aumentou de 42,6%, em 2006, para 53,8%, em 2016. Isso quer dizer que, atualmente, mais da metade dos adultos brasileiros está acima do peso.
Um quadro preocupante, ainda mais se observarmos que cada vez mais os brasileiros estão trocando alimentos frescos e formas tradicionais de preparo das refeições por alimentos processados e ultraprocessados.
Diante do avanço da obesidade, e do consequente aumento nos casos de câncer causados pelo excesso de peso, é necessário um esforço maior nas ações de prevenção por parte do sistema de saúde.
Além disso, é importante promover o reconhecimento social da relação entre obesidade e câncer, alertando as pessoas sobre a importância de controlar sua massa corporal e também o tamanho da cintura.
Iniciativas simples, como incentivar mudanças nos hábitos alimentares dos beneficiários e promover a prática de atividade física regular, podem ajudar as operadoras de saúde a reduzir os custos com o tratamento de obesidade e câncer.